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segunda-feira, 6 de agosto de 2012

AS DORES DE CRESCIMENTO DA CHINA

Muitos acreditam que a China é o motor da economia mundial e estão preocupados que, se ela diminuir o ritmo, nós podemos estar destinados a uma recessão ou, até, depressão. Contudo, não acredito que é o momento de entrar em pânico. De fato, o crescimento da China está desacelerando dos dígitos duplos registrados nos últimos anos; várias organizações estão divulgando previsões com um possível produto interno bruto entre 7 – 8% neste ano. Contudo, acredito que é importante enfatizar que isso ainda representaria uma velocidade impressionante, e que a China não é a única locomotiva da economia mundial.

Crescimento em ritmo menor é parte natural da evolução de uma economia emergente, particularmente uma tão grande como a China, a segunda maior economia do mundo. Várias das economias do mundo estão passando por um momento de ritmo menor de crescimento e a China também está passando por mudanças estruturais que, normalmente, trazem efeitos colaterais como dores de crescimento. O país está se encaminhando rumo a um modelo econômico mais orientado ao consumo e relaxando os controles sobre a economia, o que pode exigir alguns ajustes. Uma boa notícia para a China relacionada com esses esforços focados no mercado doméstico é que novos empréstimos durante a primeira metade deste ano ajudou a alavancar os investimentos em ativos fixos na China em 20% a mais do que os níveis vistos durante o mesmo período em 2011.1
O crescimento em ritmo menor da China resultou, evidentemente, em bastante angústia no mercado e o mercado de ações vem sofrendo revezes neste ano. A preocupação renovada com a desaceleração do país asiático não é surpreendente, mas nós precisamos lembrar que são vários mercados emergentes e de fronteiras com crescimento rápido que estão alimentando o desenvolvimento econômico e contribuindo para o crescimento mundial. A economia global não é algo que depende de um único motor. De acordo com projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI), a África deve ser o continente com a maior ritmo médio de crescimento nos próximos cinco anos. E, se a Índia for capaz de concluir reformas importantes, vejo potencial para taxas de crescimento no país que ecoem o que a China experimentou nos últimos 5 a 10 anos.
Caixa de Ferramentas de Políticas da China
Ao vermos que a China é um dos pilares do crescimento mundial, nós precisamos considerar quais medidas potenciais os chineses podem tomar para evitar uma redução ainda maior do ritmo do crescimento — acredito que eles possuem várias ferramentas políticas.
Por exemplo, nos últimos meses o governo chinês retirou os limites para empréstimos bancários e para os projetos de governos locais, reduziu a taxa de juros para empréstimos e depósitos em 25 pontos base em junho e reduziu as taxas novamente em julho para 6% para empréstimos de um ano e para 3% para as taxas de juros de depósitos. Há movimentações para aumentar o financiamento para pequenas e médias empresas e, pela primeira vez, o governo encorajou a emissão de títulos corporativos de alto rendimento na bolsa de valores de Xangai. Este é um passo importante já que demonstra a disposição do governo em permitir maior flexibilidade na taxa de juros. O mercado de ações na China está expandindo com novas listagem de equity, opções de ações, contratos futuros de prata e há a possibilidade de, até contratos futuros de petróleo bruto no futuro.
O governo também lançou uma rodada de subsídios para a compra de automóveis com uso eficiente de energia e equipamentos, e acelerou os projetos de infraestrutura e a aprovação de projetos de habitação de baixo custo.
Estas mudanças são apenas algumas das várias ferramentas que o governo possui com potencial de estimular a economia, ainda que estes resultados possam não ser tão imediatos quanto outros tipos de ações de estimulação que foram feitas no passado —como os aumentos gigantescos nos gastos do governo com infraestrutura.
A China também conta com a vantagem de possuir a maior reserva em moeda estrangeira no mundo (mais de 3 trilhões de dólares) e mantém o controle sobre bancos e organizações industriais chave no país. Com a sua grande reserva em moeda estrangeira, a China foi capaz de entender o que está acontecendo na África, América Latina, e outros países, além de, de maneira ainda mais importante, comprar alguns ativos valiosos que podem potencialmente colocar o país em uma boa posição para avançar. Recentemente foi noticiado que uma empresa chinesa fechou um acordo, que ainda precisa de aprovação, que pode ajudar a reforçar  a sua reserva de petróleo e gás natural por conta de uma grande aquisição de energia canadense. A China está investindo pesadamente no exterior, especialmente em fontes naturais, para ajudar a atender a sua demanda crescente.
Possíveis Ameaças
A China conseguiu aumentar a liquidez e estimular a economia porque, pelo menos por enquanto, a inflação está em tendência de queda, caindo para uma taxa anual de 2.2% em junho.2 No entanto, os salários estão subindo por lá e o país enfrenta a ameaça potencial de aumento no preço de alimentos se a seca no verão dos Estados Unidos culminar com produção agrícola substancialmente menor. A contribuição dos EUA com a produção agrícola está em um terço do total global de soja, milho e trigo, e a China é o maior importador do mundo de soja, então o impacto pode ser substancial. Países emergentes estão especialmente vulneráveis para inflação em itens de alimentação já que a categoria alimentos fica com uma porcentagem maior da renda do consumidor do que em outras economias desenvolvidas. O preço do petróleo é outro fator que acreditamos que merece atenção; se os preços subirem novamente, o impacto na inflação em geral pode ser significativo.
O que mais pode me preocupar? Como um investidor de longo prazo, tendo a olhar para o cenário macro, indo além das estatísticas de curto prazo. O governo chinês opera com uma série de planos de cinco anos para transformar a econômica e eu não sei exatamente quantas partes do plano mais recente até 2015 (a Orientação 12) serão implementadas, e se vão ser bem sucedidas como um todo. A China precisa ser capaz de ser flexível com o programa para que, então, não haja erros em sua implementação. É preciso fazer a própria pesquisa sobre o plano e tirar as próprias conclusões, mas vários dos objetivos incluem a já citada transformação para um modelo econômico baseado em consumo, aumento de renda, reforma de impostos e várias iniciativas “verdes”.3
Potencial de Valor na China
Como investidores de valor, temos visto que os contratempos do mercado motivado pela angústia está abrindo oportunidades em potencial de barganhas de mercado, e a razão entre o preço-retorno na China está, de maneira geral, parecendo atraente para nós neste momento. Os consumidores e as commodities são áreas de particular interesse, já que acreditamos que a transição para uma economia mais baseada em consumo pode ajudar a suportar esses setores. Tenho todos os motivos para acreditar que esta transição vai ser bem sucedida, e ainda acredito que a China vai continuar caminhando em frente.
Você pode ler mais sobre as mudanças estruturais acontecendo na China ao acessar um post recente no blog do meu colega Dr. Michael Hasenstab, co-diretor do departamento de títulos internacionais da área de renda fixa da Franklin Templeton ®: “Sem Armagedom, mas com consequências.”

1. Fonte: Bureau Nacional de Estatística da República Popular da China. Stats.gov.cn.
2. Fonte: Bureau Nacional de Estatística da República Popular da China. Stats.gov.cn.
3. Fonte: República Popular da China, gov.cn.

Mark Mobius

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