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terça-feira, 26 de junho de 2012

Stress: problema seu, da sua empresa e de toda a sociedade

Você está trabalhando muito, há algumas semanas, e se sente estranho. Mãos e pés meio frios, sensação de boca seca o tempo todo, dor de estômago insistente. De tempos em tempos, começa a suar muito, sem razão aparente. Se sente irritado, tenso. O coração bate mais rápido, os ombros estão tensos. A respiração parece de cachorro, de tão curta e frequente. As noites são mal dormidas, ou de insônia. O apetite tem dois extremos: fome nenhuma ou vontade de engolir o que vier pela frente, exagerando e repetindo, sem parar, às vezes até passar mal.
O volume de responsabilidades no trabalho aumenta, e as reações em seu corpo acompanham. Agora sua memória começa a falhar. Você sente formigamento em diferentes partes do corpo. Se sente mal, cansado, sem vontade. Sua pele fica estranha, e começam a aparecer irritações sem razão aparente. Sua cabeça dói, e a sensação é de muito sangue na cabeça, uma pressão como se estivesse de cabeça para baixo.
O tempo passa e o ritmo no escritório não muda. Você se sente desconectado da família e dos amigos. Sua vida sexual desaparece, sua digestão fica muito complicada. Resfriados surgem como se você tivesse 3 anos de idade e começando a ir para a escolinha, de tão frequentes. Dores de estômago fortes e diarreias acompanham sua rotina. O sono é sempre agitado, e se consegue dormir, os pesadelos estão sempre presentes. Alguns tiques nervosos aparecem. Uma sensação de bigorna, de frio no peito, de tristeza profunda acompanha seus dias. 
O cenário acima é desolador. E muito mais frequente do que imaginamos. Pode descrever o que eu, você ou certamente um colega de trabalho já sentiu ou está passando atualmente.
Na semana passada, estive em Porto Alegre por 5 dias participando de um Curso de Gerenciamento de Stress e depois de um Congresso Internacional de Stress no Trabalho, promovidos pela ISMA Brasil (International Stress Management Association). Ouvi, li e discuti muito a respeito deste quadro, suas razões e consequências. Uma oportunidade interessante para me aprofundar mais em aspectos da medicina e fisiologia, nas políticas e regras relacionadas à legislação, nos programas e iniciativas de empresas, nas estatísticas e gravidade crescente dos problemas relacionados ao chamado stress ocupacional – o stress causado pelo trabalho.
Pessoalmente, fiquei surpreso em saber mais sobre a gravidade do problema e o paradoxo de baixo investimento, bem como a incipiência que predominam na área. A começar pelos poucos patrocinadores do evento, bem como pelo espaço de estandes espartano e pequeno, com parcas empresas apresentando soluções e apoio para o desenvolvimento do segmento no país. O Congresso tem um viés científico interessante, com grande preocupação com bases estatísticas e respaldo comprobatório. Mas os estudos mais recentes datam de 2006, alguns de 2008, e grande parte das menções teóricas vem do início da década passada ou final dos anos 90.
Paradoxo estranho. Por um lado, baixo investimento, estudos pouco recentes, predominância acadêmica, pouca adesão e representatividade das empresas, segmento ainda em estágio inicial de sedimentação e profissionalismo. Por outro lado, custos astronômicos do stress ocupacional no mundo inteiro. No Canadá, a conta anual passa de U$ 14,4 bilhões (2001); na Europa, 20 bilhões de euros (2005); nos EUA, U$ 300 bilhões (segundo o American Institute of Stress, 2004). Notem que a dimensão é de bilhões. Bilhões de prejuízo, de recursos utilizados para correção de problemas, de baixa produtividade. Ou seja, impacto econômico, de desenvolvimento, financeiro, social e humano. Na média, 30% são custos médicos; 70% de efeitos na produtividade. No Brasil, estima-se que os custos estejam em torno de 3,5% do PIB (o que parece baixo ou mal medido quando olhamos para os números de outros países), sendo que pesquisas indicam que 70% dos nossos trabalhadores estão estressados, e 30% destes com chances de evolução para o chamado burnout (quadro extremo de falta de esperança, atitudes extremas, esgotamento,  despersonalização, afastamento do trabalho por longos períodos ou em definitivo).
Mas que tipos de custos são esses?
Bem, é preciso entender melhor o stress no trabalho e seu ciclo de consequências.
O stress é, na verdade, uma soma de características genéticas com um ambiente favorável para seu desenvolvimento. A frase de Collings (1983), resume bem o problema:  “Nenhum problema de saúde consegue escapar da influência de oito horas de trabalho.” Talvez em 1983 ainda fossem 8 horas, mas e agora, que enfrentamos média de 10 a 12 horas diárias? Todos temos predisposições genéticas, que podem ser gravemente reforçadas pelos males gerados pelos excessos no trabalho.
Tentando resumir: o stress pode ser bom ou ruim. Nós todos temos o comportamento de “luta ou fuga”, que é nossa reação natural ao lidar com uma adversidade que possa colocar em risco nossa sobrevivência. O perigo é se manter neste estado por períodos prolongados de tempo. Mas, que estado é esse?
Ao perceber um agente estressor (pode ser um leão na floresta, um ladrão entrando em casa, um chefe exigindo demais ou um volume muito grande de trabalho ou responsabilidade), nosso organismo reage automaticamente com a liberação de hormônios. Com isso, aumenta o nosso nível de glicose no sangue (mais energia, para o estado de luta ou fuga), a circulação passa a se concentrar mais no coração, cérebro e rins (de novo, os órgãos mais  importantes são privilegiados automaticamente para lutarmos ou fugirmos), a frequência cardíaca aumenta, idem para a pressão arterial, as pupilas se dilatam (para enxergarmos melhor). Ao mesmo tempo, nossa imunidade cai (fica secundária), a digestão piora (quem pensa em comer numa hora dessas?), idem para o desejo e capacidade de reprodução.
Pronto, um parágrafo simplório para tentar resumir o que acontece com nossa fisiologia quando estamos estressados (peço perdão público aos especialistas). Mas este resumo ajuda, inclusive, a entender os parágrafos iniciais deste texto, e o que podemos sentir em situações de stress no trabalho. De novo, o problema é a exposição prolongada a todos estes fatores.
Fica, então, mais fácil compreender os tais custos do stress:
1. Custos humanos: hipertensão, gastrite, problemas cardiovasculares, problemas mentais como neurose, depressão, aumento da incidência de câncer pela queda da imunidade, dependências químicas, alterações osteomusculares, envelhecimento precoce, consequências físicas e psicológicas, renda perdida devido à doença e seus efeitos na sociedade;
2. Custo para as empresas: presenteísmo (queda da produtividade de quem trabalha), perda de memória, absenteísmo (trabalhadores começam a faltar mais, o que gera novos custos como substituição, substituição não perfeita), efeito na produtividade da equipe, atrasos que causam penalidades para a empresa ou perda de oportunidades,  atrasos constantes, erros e acidentes de trabalho, invalidez (aguda ou crônica), ações trabalhistas, sabotagem (difícil de acreditar que as pessoas chegam a esse ponto), efeitos no ambiente organizacional, turnover, custos de treinamento de novos colaboradores, má gestão e assim por diante;
3. Custos para a sociedade: indivíduos alienados e doentes, sistemas de saúde onerados, baixa competitividade das empresas, famílias se desfazendo, suicídios (casos extremos e não tão incomuns quanto pensamos), uso abusivo de álcool e drogas, aumento do consumo de remédios tarja preta (o Brasil é um dos campeões mundiais de consumo de Rivotril), cidadãos cujo futuro de saúde e produtividade estarão sempre afetados.
Mas o que causa, efetivamente, stress nas pessoas, que pode adoecer as organizações e a sociedade?
Os chamados fatores estressores são muitos: carga excessiva de trabalho, longas jornadas, excesso de responsabilidades, excesso de demandas, falta de igualdade, hierarquia rígida, repressora ou autoritária, relações tensas, falta de autonomia, dificuldades de ascensão na carreira, ausência de um sistema de recompensa, conflito de papéis, ambiguidade de tarefas, e assim por diante…
As reações, então, são psicológicas (depressão etc.), fisiológicas (os tais hormônios) e  comportamentais (bebida, drogas, remédios etc.). E é logico que variam de pessoa para pessoa, pois todos temos diferentes formas de lidar ou reagir com situações adversas ou desafios no trabalho (o chamado coping). Outros aspectos dizem respeito a idade, sexo, estado civil (posso me sentir mais protegido por minha família ou ainda mais pressionado pelas responsabilidades de subsistência), personalidade (posso ser mais ou menos resiliente que meu colega, ter autoestima maior ou menor, ter uma postura mais ou menos negativa perante a vida e seus desafios, etc.), estilo de vida (prática de exercícios, nutrição, hábitos),bem como tempo de trabalho (mudanças de empresa ou posição sempre geram stress; muito tempo fazendo a mesma coisa, idem). Mas, principalmente: o tempo de exposição aos tais agentes estressores.
Ou seja, por quanto tempo podemos suportar a pressão anormal no trabalho, do ponto de vista psicológico, fisiológico e comportamental?
Como podemos ver, o quadro é sério, real e crescente. Com a globalização, os mercados cada vez mais competitivos e a era da informação, as empresas tem que produzir mais, dar mais retorno, com mais agilidade, mais inovação. A pressão é automaticamente passada para as pessoas, os trabalhadores. Começa então a espiral ascendente de desgaste, ônus para a saúde, custos humanos, empresariais e sociais.
Stress ocupacional é assunto sério, por tratar de seres humanos, de produtividade e custos para as empresas, de impactos na sociedade. Muito se fala em sustentabilidade hoje em dia. É preciso lembrar que a sustentabilidade começa com as pessoas, com os profissionais, que por sua vez compõem as organizações, as empresas e a sociedade produtiva.
Por isto tudo, é fundamental que mais e mais eventos como este da ISMA Brasil se repliquem, com mais profissionalismo e porte, com mais empresas e apoiadores, com mais cases sendo apresentados e debatidos.  Não é possível que somente tenhamos acesso a estatísticas de estudos estrangeiros e já não tão recentes. Não se pode aceitar que somente eventos de telecom, varejo ou formação de gestores, para citar alguns exemplos, tenham patrocinadores em peso e apoio profissional para crescimento e fomento do setor.
Temos, todos nós, trabalhadores, líderes e gestores, que investir na transformação e prevenção desta triste realidade de uma sociedade cada vez mais doente por consequência do stress do trabalho. A razão pode ser financeira ou humana, individual ou coletiva, empresarial ou social. Tanto faz. Mas é preciso colocar este tema na pauta de prioridade e ação de todos os interessados em construir uma sociedade mais saudável, produtiva e equilibrada.

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